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A rua por direito
A rua por direito



Ao pé de mim se acercou

Com fantasias e sonhos para vender

O dinheiro no bolso guardar

Para outro alguém receber


Alguém que o controla à distância

Numa bela poltrona sentado

Fumando o cigarro e assobiando

Porque o puto é desenrascado


Também se o não fosse

Com o manda chuva se tinha que haver

Mesmo assim uns puxões de orelhas

É o que muitas vezes tem para comer


Pobrezito lá anda pela rua

Nem sempre pelo povo é bem acolhido

Tratam-no do pior que possa existir

Talvez fosse melhor não ter nascido


Mas o puto não pensa assim

Tem esperança que a sorte vá mudar

Um homem bem sucedido irá ser

O povo doutro jeito o vai olhar


Porque é que a vida tem que ser assim?

Uns com tudo outros sem nada

Algibeiras carregadas de sonhos

Brincando com as pedras da calçada


Eu vejo isto e cruzo os braços

Digo que não sou culpado

Também não és tu não é ninguém

Viramos todos a cara para o lado


Mas nas conferências de imprensa

Toda a gente tem algo a mostrar

Muitas palavras e mãos cheias de nada

Ou não sabemos ou nada queremos mudar


Na rua continuará a aparecer alguém

Me acercando para vender esperança

Mas continuarei a esquecer-me

Que se trata de uma criança.