Ao pé de mim se acercou
Com fantasias e sonhos para vender
O dinheiro no bolso guardar
Para outro alguém receber
Alguém que o controla à distância
Numa bela poltrona sentado
Fumando o cigarro e assobiando
Porque o puto é desenrascado
Também se o não fosse
Com o manda chuva se tinha que haver
Mesmo assim uns puxões de orelhas
É o que muitas vezes tem para comer
Pobrezito lá anda pela rua
Nem sempre pelo povo é bem acolhido
Tratam-no do pior que possa existir
Talvez fosse melhor não ter nascido
Mas o puto não pensa assim
Tem esperança que a sorte vá mudar
Um homem bem sucedido irá ser
O povo doutro jeito o vai olhar
Porque é que a vida tem que ser assim?
Uns com tudo outros sem nada
Algibeiras carregadas de sonhos
Brincando com as pedras da calçada
Eu vejo isto e cruzo os braços
Digo que não sou culpado
Também não és tu não é ninguém
Viramos todos a cara para o lado
Mas nas conferências de imprensa
Toda a gente tem algo a mostrar
Muitas palavras e mãos cheias de nada
Ou não sabemos ou nada queremos mudar
Na rua continuará a aparecer alguém
Me acercando para vender esperança
Mas continuarei a esquecer-me
Que se trata de uma criança.